quarta-feira, 14 de setembro de 2011

ESPERANÇA



O pouso foi tranquilo e delicado. Acompanha-me durante um bom tempo, permanece no ombro esquerdo. Cutucava-me de tempos em tempos, provocando um leve incômodo gostoso.
As pernas finas, alongadas são firmes e flexíveis, aguentam uma chuva forte, quiçá uma tempestade barulhenta e mimada, que teima em arrastar tudo que vê pela frente.
Molhada, encharcada, sacode as pequenas e possíveis asas e recompõe-se, e insiste em permanecer pousada no meu ombro dolorido, por causa das mazelas vividas.
De noite, quando o silêncio impera, ela embala o meu sono inicial me prometendo dias melhores, mais doces e caprichosos, cheios de aventura, risos e amor, e uma ida rápida a Pasárgada para andar de bicicleta e subir no pau de sebo com Bandeira.
A noite tranquila me renova e de manhã quando desperto e olho para o lado, ela ainda está lá, quase entregando os pontos, cansada da labuta incessante da vida corrida e egoísta, e a vejo pender para o lado, quase inerte e sem forças; então eu ajo e grito. Ela sobressalta-se assustada e quase cai por causa do susto, mas é apenas durante um milésimo de segundo, e então, agiganta-se e porta-se firme ao meu lado.
Quando saio da cama para um novo dia, e me sinto só, recaio minha cabeça para o lado esquerdo e quando vejo, ela está lá, rindo, meio boba, ingênua e à postos, ri e me afaga a alma e eu a chamo; ela pula e murmura sorridente no meu ouvido humano me confortando sempre, como uma mãe conforta uma filha que chora desolada, por isso eu continuo a cantar, sem ritmo, mas a cantar!
Renata Chaves Gentil

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