terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

ESPÍRITO SEM PRECONCEITO


Outro dia, lendo uma crônica de algum autor ou autora, em algum lugar, descobri que devemos deixar esfriar o segmento de um texto, quando o assunto nos causa uma certa revolta.
Foi o que eu fiz, segui o conselho, esperei esfriar, na verdade, eu tentei, mas o assunto ainda me perturba visceralmente, a entrevista do Pastor Sillas Malafaia no programa da Marília Gabriela, não foi digerida por mim, aliás, está na goela – causando incômodo-, nem que eu tome Omeprazol para o resto da vida vou consegui acoplar ao meu corpo o que ouvi e da forma como ouvi. Além de ter silenciado a própria entrevistadora, o que deveria ser chamado de falta de educação, a então excelente jornalista foi calada por um discurso prolixo, falho, preconceituoso, vago, que mostrou-se apenas efusivo na altura da voz ,e na argumentação, de uma superficiliadade pungente e afiada, mas não ofereceu NADA, pelo contrário, prestou um desfavor à sociedade democrática da qual faço parte.
Sou sempre a favor das minorias, isso faz parte de mim, não adianta, mesmo que por vezes, eu não faça parte delas, mas compreendo cada uma delas, ou pelo menos tento e respeito. Quando perguntado sobre o dízimo que os fieis depositam de forma eficaz e assiduamente, o Pastor citou a Bíblia de forma pragmática e denotativa(o que é um erro grave) e não ofereceu justificativa para ele ter o que tem, mas não quero falar de dinheiro, porque a pessoa dá aquilo que quer e para quem quer, e também não vou falar da Bíblia, e nem das passagens citadas pelo Pastor, minha visão é diferente, leio de outra forma, com outros olhos, com coração aberto, humano, não-julgador, respeitoso, jamais citarei a Bíblia para justificar atos preconceituosos, “pecados”, minha leitura é amorosa demais para tal percepção.
Minha revolta é de cidadã, e aí desculpem-me logo, porque talvez precise usar palavras nada eufêmicas. O Pastor é um ignorante, em todos os aspectos, inclusive religioso, inclusive na arte da palavra, porque ele faz uso dela e não consegue dizer nada, apenas brigar e assustar as pessoas que escutam um discurso ineficaz e em alto volume, apenas isso. Minha revolta é de cidadã porque ele prega para um povo, muitas vezes, abandonado educacionalmente, pessoas que não tiveram a educação que eu tive, que não puderam assimilar as diferenças, que não puderam perceber o mundo com outros olhos, não tiveram oportunidade de olhar para a Bíblia com mais propriedade, ou propriedade histórica mesmo, por que não? Isso não diminui a FÉ. Meu incômodo sempre vai ser com a ignorância, com a falta de educação, com a falta de leitura, com a falta de percepção em relação ao outro que é diferente e não importa o porquê.
Não me interessa se um cara(ou uma mulher) opta, escolhe, nasce, se comporta de uma determinada forma e essa forma é ter relações com pessoas do mesmo sexo, ou ter relação com homem e mulher, ISSO É OPÇÃO DELE, NÃO ME INTERESSA O MOTIVO, SE ELE OU ELA É FELIZ ASSIM, QUE MARAVILHA!
O que me importa é esse cidadão ou essa cidadã, terem seus direitos resguardos, respeitados, fazendo uso da sua cidadania no seu sentido laico mais amplo, o resto, a mim, não importa!
Dedico este texto a todas as pessoas que de alguma forma já sofreram algum tipo de preconceito, seja ele qual for, enquanto não vivermos num país que promove a igualdade de direitos a todos, ainda temos muito trabalho a fazer, minha mão sempre estará estendida ao respeito, ao amor, à cidadania, à igualdade, à humanização!
Parafraseando a excelente jornalista, Marília Gabriela, encerro meu texto com sua fala:
“- Espero que meu Deus, que não é o seu, o perdoe Pastor!”
Obrigada,

Renata Chaves Gentil