sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

EU NÃO SOU CHARLIE





Confesso que senti um paradoxo sentimental em relação às mortes ocorridas na França por causa dos atentados, portanto preferi até este momento não me manifestar, fui me informar.
Antes de mais nada sou a favor total e por completo da liberdade de expressão, mas carrego comigo algumas dúvidas em relação ao jornal francês e divido-as com vocês:
1 - Seríamos Charlie se fosse Nossa Senhora sendo ridicularizada semanalmente?
2- Seríamos Charlie se nós, brasileiros, fôssemos o alvo de piadas , insultos e generalizações xenofóbicas?
3- Ou ainda, seríamos Charlie se Jesus Cristo crucificado fosse alvo de piadas e chacotas sexuais?
A situação dos muçulmanos na periferia francesa é caótica, crítica e complicada. Há uma segregação nítida entre os franceses(verdadeiros) como eles dizem (acredite eles falam assim) e os outros franceses oriundos de outras etnias ou religiões, partindo desse pressuposto é mais fácil satirizar o excluído, o pobre, o negro, o gay, o turco, o árabe, todos aqueles que não são verdadeiros.
Acredito que apenas uma pequena parte dos muçulmanos comunga desta retórica terrorista e, infelizmente, abafam o verdadeiro sentido do Islã, dificultando uma melhor compreensão daqueles que não comungam da mesma prática religiosa.
Somos a favor da ridicularização do Nordeste por alguns sulistas? Nos sentimos confortáveis, sendo nordestinos, sofrendo preconceito em redes sociais e ataques que mechem com nossa conduta e inteligência?
É fácil ser Charlie, sendo branco, católico.
E os negros? Para eles foi fácil ser negro na década de 1960 nos EUA/Já leram o código de conduta dos não brancos do Mississipi?
E os gays? Que são mortos, apanham, sofrem preconceito, são perseguidos ainda hoje, porque as pessoas simplesmente acham que podem opinar com quem o outro deve se relacionar, será que eles também podem ser Charlie?
Acredito, antes de tudo, no respeito, e a melhor forma de demonstrar inteligência e sátira seria respeitar o ser humano e a fé que ele carrega consigo.
Para mim, não ser Charlie, é ser a favor de todas as diferenças existentes entre as pessoas, sua cultura e sua prática religiosa, ao respeitar as diferenças, me respeito e me torno uma pessoa melhor.
Diante de tudo que foi lido e comentado nas redes sociais e nos veículos informativos, percebi que grande parte das pessoas é Charlie, porque o alvo da publicação francesa não é elas, assim é fácil ser Charlie.
Renata Chaves Renata Gentil

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