domingo, 6 de abril de 2014

ESPÍRITO GABRIELA LEITE


Deparei-me com a história de Gabriela Leite por acaso, não vou mentir, até mesmo porque tenho certeza de que ela não gostaria. Atrás da biografia definitiva de Freddie Marecury, passando entre uma página e outra da internet vi o livro de Gabriela. Já tinha escutado falar dela na página do Dep. Jean Wyllys que sigo no Facebook, sabia que ela tinha sido uma prostituta e tinha uma atuação em relação aos direitos essenciais de trabalho para essas mulheres e, ainda, sabia que existia algum projeto de lei com o seu nome.
Comecei a ler o livro: “FILHA, MÃE, AVÓ E PUTA”, apesar de ter conseguido a biografia que eu queria, comecei por esse. Comecei e terminei, li sem ponto final como eu costumo dizer, quando começo um livro e só largo depois da última página lida, usei seis horas do meu sábado e devorei essa história tão gigante, tão humana, tão digna, tão bonita, tão tocante, tão Gabriela.
Diferente do livro da Bruna Surfistinha(também lido por mim há um tempo), Gabriela gostava da “ZONA” e fez o que fez por escolha, não foi vítima do sistema, da pobreza, de algum cafetão, ela foi porque quis. Universitária da USP, de classe média, politizada e livre, frequentou o REDONDO – bar boêmio de intelectuais de Sampa – e de soslaio observava uma boate de luxo, onde mulheres desciam chiquérrimas para ironicamente praticar a profissão mais antiga que se tem notícia: vender sexo.
Aprendi tanto nessas 162 páginas, depois aprendi fuçando tudo que podia sobre ela na internet e me deparei com a entrevista que ela deu para Marília Gabriela e lá ouvi sua voz e vi sua imagem, seu jeito, ouvi sua militância, sua inteligência, sua falta de preconceito. Diferente do que imaginava, Gabriela tinha voz suave e era pequena(isso eu já sabia, porque ela mesma dissera em seu livro, 1,50m), mas de uma personalidade ímpar. Humana demais e com uma habilidade rara com as palavras, dizia muito em tom de voz baixo, o que é raro hoje em dia.
Eu poderia escrever um livro ou um conto sobre essa história fantástica que li e conheci, poderia me lamentar por não ter conhecido Gabriela (o que lamento, infelizmente), mas seu legado militante é essencial nesse mundo preconceituoso e julgador, ela me ensinou o que já venho tentando exercer em mim há tempos, a TOLERÂNCIA.
A capacidade que algumas pessoas têm de mudar a vida das outras com a palavra dita, escrita, proferida, insistente, Gabriela não desistia e me mudou(para melhor). Sambista por amor, carioca por escolha, essa figura mostrou a mim que cada ser humano deve ser respeitado, independente de suas escolhas pessoais.
Ela deve ter sido uma mulher incrível, forte, humana, valente, inteligente, como muitas mulheres prostitutas e mulheres que também não são prostitutas, são brasileiras anônimas que lutam pelo direito de igualdade numa sociedade pseudointelectual e machista ao extremo.
Também quero agradecer ao Jean(WYLLYS), por descortinar – num primeiro momento – para mim, uma história tão linda, tão forte, obrigada querido Deputado, sua militância e insistência pelos direitos humanos também é lindíssima!
Encerro com duas frases marcantes da própria Gabriela:
“O meu sentimento de liberdade pessoal é tão forte em mim, que ele contraditoriamente, ele quase me escraviza.”
“...Quero ganhar um pouco mais de dinheiro para fazer as mesmas coisas que eu faço, mas tranquilamente comprar meu CHANNEL 19, pois é muito duro viver sem ele.” (Gabriela Leite, Fundadora da ONG DAVIDA e da linha de roupas DASPU. * 22/04/1951  10/10/2013 – Gabriela faleceu de câncer de pulmão)

Um beijo para Gabriela,
RENATA CHAVES GENTIL

Nenhum comentário:

Postar um comentário